Seu Melhor Presente
Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: [...] tempo de abraçar e tempo de se conter. Eclesiastes 3:1, 5, NVI.
Abra o porta-malas. Coloque o vídeo dentro. Traga a bicicleta. Coloque-a dentro. Coloque também o capacete. Chaves – pegou as chaves? Diga “Oi” ao Jeffrey. Jeffrey! As ferramentas. Corra para dentro e pegue as ferramentas. Corra até a casa do vizinho; devolva as ferramentas. Troque amenidades, rapidamente. Diga “Tchau”. Corra, corra, corra! Entre no carro. Você está A-T-R-A-S-A-D-A!
“Espere”, gritou a filha de Jeffrey, de 4 anos, correndo atrás de mim, com os braços morenos, estendidos. “Você se esqueceu de uma coisa.”
Parei e olhei para trás, para Monique, intrigada. De que poderia ter-me esquecido? Eu havia pedido emprestadas algumas ferramentas do seu pai, mas tinha acabado de devolvê-las. Não havia nada mais. Nada, a não ser a agenda alucinada que me aguardava. Nada a não ser os compromissos para os quais eu já estava atrasada. Certamente não me havia esquecido de nada.
“Você se esqueceu do abraço”, disse ela docemente, abrindo os bracinhos enquanto fazia o convite.
Por um momento, o tempo parou. Olhei para Monique do outro lado da rua. Ela e Jeffrey me olhavam, aguardado minha reação. “Ela acaba de lhe oferecer o seu melhor presente”, sussurrou dentro de mim uma voz baixinha. “Atravesse a rua e receba-o.”
“Mas eu já estou tããão atrasada”, argumentei de maneira insensata, e tomei a decisão. O tempo começou a andar de novo. Dei um passo na direção do carro e respondi: “Ah, Monique, muito obrigada! Estou sentindo o seu abraço.” E, com isso, abracei meu próprio corpo, como se estivesse recebendo o presente que eu acabava de impedir que ela me desse.
Oca. Vazia. Frustrada. Querida amiguinha, não me sinto abraçada. O que me sinto é pressionada, empurrada, apoquentada, tensa. Não, definitivamente, abraçada não. Mas muito obrigada. Obrigada por me lembrar daquela coisa da qual me esqueci. E obrigada por oferecer tão espontaneamente o seu melhor presente. Da próxima vez, vou receber o abraço.
A. Grace Brown